Anamnésia – Cartão Postal

“Eu fechei os olhos por não ter coragem de encarar, e tive medo de abrir e descobri que era apenas um sonho. Era você quem saia no meio da multidão, olhando para trás esperando por alguém, com algumas coisas nos braços, passou a mão no cabelo, sorriu para uma amiga e antes de ir olhou para todos os lados, saindo então dali. Você não me procurava, isto eu sei, mas eu devia ter aproveitado mais todo este tempo que você esteve ali, passando por mim nas horas dos dias (que foram muitos). Foi esta a ultima vez que te vi. É só um mês que te resta? O que você me diz sobre sair amanhã comigo em um passeio pelos pontos da cidade que ninguém te levou por não serem agitados, nem terem pessoas legais ou uma arquitetura bonita? Deixa-me tentar fazer com que leves boas recordações diferentes, um lado-b daqui, e quem sabe até te dê vontade de voltar. Ah, não me leve a mal, falo isso sem segundas intenções, só quero ser um alguém para quem você queira mandar um cartão postal com frases legais no verso. Sim, avisa também a eles que mandem mais noticias, e vê se não me esquece. Abraços, sentirei saudades.”

Ciano

Pode ser até repetitivo, mas olhe bem para ela, seus olhos (verdes com azul-ciano), são lindos, e se transformam em ma espécie de poesia de cores, cores frias. Repare bem no olhar que ela traz, é um olhar belissimamente triste, que retoma uma bela melancolia que se esvaecesse em contos de um amor imperfeito. Como um comum negaria uma beleza assim? E para que tanta tristeza em recordar? Será que é do amor sofrer? Será o amor afinal? Sobre nada disso eu sei ou me arrisco a tentar decifrar, mas é isso que eu penso quando eu vejo aquele olhar.

Pra querer tentar

Pensar em tudo que se passou, e vê como tudo se escoou feito água de chuva, pode ser decepcionante ao olhar para trás. Tão decepcionante quanto acordar de um sonho bom é te ver com um novo alguém, e fingir ser feliz para me machucar. Quando você o beija no rosto próximo aos lábios como fazia comigo, quando sorri e sai por aí com ele. Pode ser que você seja feliz até, mas não há quem me faça acreditar que é com ele que você queria estar. Se estou errado ao menos me dê motivo para errar, mas não, por que você vem me perguntar quem é esta que está comigo? Que diferença isso lhe fará? Você tem medo de que eu consiga ser melhor sem você, tem medo que para sempre eu venha te esquecer, você tem medo de não caber mais em minhas rimas, você tem medo de se arrepender. Eu bem que tentei ressuscitar nós dois, eu bem que tentei se alguém para te fazer sentir alguém.

Londres – Parte I [LADO A]

A melhor de maneira de reconhecer seus reais amigos é vendo a falta que você faz para eles. Era assim que ele pensava, antes de sair à noite para algum lugar sem avisar para onde iria. Ele caminhava pelas ruas, vestindo uma camisa preta, uma calça jeans preta e um all-star branco bastante sujo. Sussurrava uma canção triste, mas lembrava em outra alegre, e lembrava também de uma terceira, “Hey, Jude!”, que dizia para ele transformar aquela canção triste numa melhor. Seus passos eram curtos e apressados, além das canções outros pensamentos perigosos cercavam teu pensamento. Ele ainda tentava saber para onde seus passos iriam dar, e tudo que ele trazia era o celular [caso precisasse de alguém para conversar], um pouco de dinheiro e uns papéis amassados e suados no bolso traseiro da calça. Ele pensava se ligava para ela para perguntar se podia encontrá-la para conversar, se aparecia de surpresa para ela ficar feliz, mas resolveu sentar num banco num canto distante de uma praça qualquer. Ali ficou por alguns minutos, tinha idéias de como se livrar de toda essa raiva que o domina, de como reconquistá-la, de como fazer para apaixonar-se por ela novamente com antigamente. Tudo que ele conseguiu foi apenas esquecer-se de tudo que pensava, esquecer-se do que te fez sair por algumas horas de casa. Tudo agora se esconde num canto de sua memória na qual sua vontade de ser feliz ao menos por um dia o impedirá de visitar outra hora. Agora tudo que ele mais queria ela ter um alguém ao seu lado para abraçar e chamar de amigo, que se sinta bem ao estar contigo. Ele quer falar com alguém que diga coisas divertidas, que entenda suas idéias loucas de uma utópica revolução interior. Na verdade, tudo que ele quer é apenas encontrar um lugar legal, tranqüilo e relaxante, que toque ao fundo Love-songs ao piano, com uma boa compania e bons sorrisos para compartilhar, enquanto lembra-se de um alguém não tão distante, de um alguém tão importante que ele sonha encontrar.

Corola [reeditado]

Não são apenas teus olhos apertados, nem tua voz doce. Não é apenas por tua sinceridade e serenidade. Assim como uma flor não é bonita se só tiver uma pétala, o que mais chama atenção em você é o conjunto de tudo isso. Acho que só por ser você, por ser esse nome, não importa quais olhos caberiam em você, que timbre traria tua voz. O que te torna especial para mim é só o fato de todas as qualidades que mais me atraem estarem reunidas na embalagem mais bela, o que me encantou. Quando a noite vem enfeitada com poucas estrelas é porque você não saiu para elas terem para quem brilhar. E quando a chuva que escorre nos telhados e lava as ruas é só para você passar. É por isso que o outono trás ao chão da janela e teu quarto as flores, para ficarem mais próximas para você tocá-las.  De uma forma estranha como o sol se põe mais cedo e rápido quando você não está aqui comigo, as ruas deste bairro ficam mais desertas, e as luzes amarelas amedrontam mais do que iluminam. É fato que nada disso acontece apenas por você, mas é assim que vejo passar o dia, pois para mim o dia gira em torno de ti. Não cabe em mim tanta ansiedade em querer te ver à noite. Você, aquele sorriso que sempre levo em mente comigo. Só para sentir teu abraço, e ouvir tua voz, olhar teus olhos e gravar tudo em minha cabeça, como uma película em fita que projeta um filme em preto e branco em 12 quadros por segundo… Uma espécie de cinema mudo em minha mente.

Junho

Unir planos sim, mas com calma meu bem. Não vamos falar daquilo que ainda não temos certeza, não vamos pensar no que seremos amanhã, não ouse em pensar que estou com você só para ocupar meu tempo. Com você eu não perco tempo, eu me perco do tempo, e sequer percebo que o céu hoje estava cinza. Mas eu tenho medo de te machucar, e por ter medo de te machucar é que sempre te machuco ao dizer que vou me afastar para te livrar deste risco. Você pode até tentar me convencer que está disposta a encarar isso sem medo de se machucar, com esperanças de sermos felizes, mas o meu carinho e cuidado por você é maior do que tua vontade de se arriscar, eu prezo pelo teu bem, assim terei sempre o teu sorriso (que é lindo), mesmo sendo proferido a outro alguém. Acho que o que eu ouvi outro dia pode estar certo, eu posso está apaixonado por uma imagem irreal de um ser perfeito, o tal que só aparece para mim quando olho para você. Segundo o mesmo, se após essa imagem deixar minha cabeça e esse sentimento ainda persistir, talvez nosso afeto possa vingar. Será que isso que sinto quando falo com você é só mais uma espécie de encanto e que logo vai passar? Será um amor de outono, que depois de certo tempo irá cair ao chão? Meu bem espero que não. Por que senão eu estaria perdendo meu tempo e desperdiçando o teu, assim um de nós poderia se perder no tempo [como uma vertigem], e o outro se prender ao tempo [vivendo do passado], e assim escrever as obras póstumas do nosso amor.

 

19 de Junho de 2008.

Casa. 23:42. ”Vai lá”, Tuttu Madre

 

Vaga-lumes e neons

Luzes e sons. Raios e trovões. O céu parecia querer desabar sobre nós. Estava ali, rodeado por estranhos. Tudo ainda estava calmo, a chuva que caia ainda era fria, mas por alguma razão (que eu insistia em esquecer, mas um amigo meu em tom de ironia insistia em lembrar), minhas mãos suavam. Fazia frio, tanto lá fora, quanto lá dentro do local, quanto dentro de mim. O horário combinado, 18h30, mas você avisou que iria se atrasar.

A celebração começara, eu já havia esquecido o real motivo de estar ali, e só pensava: “será que ela virá mesmo com essa chuva lá fora (um pouco mais forte agora)? Ainda suando em desassossego eu tentava me concentrar, porem, meu amigo insistia em me lembrar: “Será que agora é ela? Chegou um carro lá fora…”. Na verdade ele parecia mais ansioso do que eu mesmo. Esqueci um pouco e nos falsos alarmes de meu amigo (“Ela chegou, olhe”), eu nem olhava mais. Não demorou muito e desta vez ele falava mais sério: “Olhe discretamente para a direita, atrás de você”. Você vestia preto em cabelos, blusa, pulseira e olhar. Eu vestia cinza, jeans e all-star (branco).

Eu, com toda aquela ansiedade que havia se instalado em mim, não consegui olhar. Sem que ninguém percebesse eu te olhei no instante em que você olhava para mim também. Lembro-me do que pensava naquela hora, eu lembrava das palavras que você me dissera mais cedo: “Você acha que o que além de você me leva até ali?”. Confesso não me conter de felicidade. Naquele instante que os olhares se encontraram, automática-simultaneamente  viramos nossos rostos, olhando fixamente para frente. A partir deste momento as palavras que eu ouvia pareciam ser línguas estranhas aos meus ouvidos, pois eu não parava de pensar no que fazer, no que dizer para você.

A reunião chega ao fim. “E agora?”, pensei. Fui para a saída acompanhado de meu amigo, esperei você e suas duas amigas virem na nossa direção. Meu amigo e suas amigas pareciam entender bem as palavras que nossos corpos naquele abraço falaram. Eles saíram, um em cada direção e nos deixaram a sós.

– “Oi” – eu disse depois do abraço.

– “Oi” – você respondeu sorrindo.

Então um silencio eterno de dois segundos me fez tremer mais do que os raios e trovoes da chuva (agora realmente forte), lá fora. Tentei agir naturalmente, embora meus dedos frios e trêmulos me entregassem. Perguntei se iríamos para casa na chuva (agora um pouco fina), ou se esperávamos passar. Você propôs que fossemos antes que voltasse a chover novamente mais forte. Assim fomos nós, e nossos amigos, por entre raios, relâmpagos, trovoes e chuva fria-fina, entre a noite e ruas desertas.

Agora a chuva aumentara, paramos embaixo da primeira marquise que achamos. Mais uma vez, nossos amigos se afastaram nos deixando a sós. Aos poucos meus passos foram encontrando os seus passos, meus braços os seus braços, meu olhar o seu olhar. O nosso silêncio, os carros, o ultimo suspiro e então fazia-se o inevitável, quando meus lábios tocaram seus lábios. Depois do beijo, cegamo-nos para o resto da avenida, nos olhávamos (ainda abraçados), e te beijei suave como se beijasse uma flor. Como já era tarde, caminhamos ate a esquina onde nos despediríamos com outro beijo sob a fria chuva. Nossos dedos se desenlaçaram, nossos olhares se desencontraram e eu segui por entre ruas e becos desertos, me molhando no sereno, até chegar em casa e permanecer contigo em um sonho bom.

 

 

Mossoró, 22 de março de 2008

*Ver posts da mesma data (período) para entender melhor.

Aqui (256kbps).mp3

Quem é você que passa em minha porta, levando consigo meu pensamento, me provocando sorrindo, me tirando a atenção? Quem é você a quem eu olho? Qual será teu nome? O que passa em tua cabeça? Sorte sua não saber o que rodeia minha mente quando você passa e eu te olho. Ouço atento e de longe suas conversas, só para ver se consigo ouvir alguém dizer teu nome. Fico ali sentado, olhando para a porta, esperando você passar mais uma vez. O tempo passa e eu não canso, lá vem você, sorrindo, distraída, ate passar na porta e novamente olhar para mim. Começo a perceber teu olhar em mim, agora esta provocação me parece certa. Certamente você só quer brincar comigo, me encantar sem sequer se apresentar, e me fazer pensar mil coisas. Mas por quê? Qual o sentido de você me olhar? Queria saber de onde veio esta coragem para eu tentar me apresentar dizendo ‘’oi’’, quando você estava sentada numa cadeira na entrada do bloco. Você me olhava fixamente e aquilo de certa fora me amedrontava, só pelo fato de ser você, a quem eu tanto olhava e admirava sem te deixar imaginar. Você foi simpática, me respondeu sorrindo, e eu tímido não sabia o que dizer. Disse ‘’depois a gente se fala, agora eu tenho de voltar para a aula’’. Acho que quebraria um contador de freqüência cardíaca se o colocassem em mim, eu não agüentava de tanta felicidade por ter trocado aquelas poucas palavras com você. Outro dia, em outro surto de coragem perguntei o porquê de você me olhar quando passas. Você responde de uma forma meio ‘estranha’ (para mim) naquele momento, disse que olhava meio que ‘admirando’ e perguntou em uma forma mais ‘estranha’ ainda: “Porque, não posso olhar não?”. Confesso que não sei se fiquei feliz, admirado ou se ria por aquilo ser a maior brincadeira que alguém fizera comigo. A partir daí nosso contato foi aumentando aos poucos, e eu me iludia tentando te conquistar. Você tinha um namorado, e eu sabia, mas mesmo assim não lhe poupava de minhas tentativas. E assim foi até o dia em que você saiu do mesmo colégio que eu. Pensei que nosso contato houvesse acabado ali, que nunca mais iria te ver ou falar contigo. Superando tudo isso, hoje somos grandes amigos, embora a distancia ainda nos separe, não há nada que se compare a admiração que hoje tenho por você. Hoje não tenho medo de esconder que um dia já gostei de você, mas sorrio ao saber que posso contar com você. Quem sabe em breve a gente não se vê? Mais do que nossos risos e lamentações ao telefone, fica agora um pouco mais do que tudo isso quer dizer: Não importa a maneira que formos dizer “Eu te amo”, acima de tudo será ‘‘Como é bom estar com você”.

Dedicatória: Você [saberás que é para ti].

Resumo dos Dias – Outdoor

Sempre é hora de recomeçar, sempre. Como já disse várias vezes o Daniel, ‘é um ciclo’, e não há lugar melhor para se recomeçar do que na linha de chegada. É onde o fim de um ciclo cumprimenta o início do outro. Será que agora será a época das cores? As cores em roupas, em palavras, nos sorrisos, no humor. Ou será ainda a continuação do cinza, do frio, da solidão e tristeza, do ‘não ao amor’? Bem que eu tentei não pensar, bem que eu tentei não prever, o necessário é planejar apenas o necessário, e assim eu vou. Acho que mudanças significativas ocorreram neste ‘ciclo’ que agora se encerra. Mudanças talvez não aparentes a outros, segundos e terceiros, mas importantes para mim. Foi um ciclo de cores frias, noites mórbidas, e também de sentimentos coloridos, alegres, externamente discretos, internamente gritantes. Tudo foi um grande contraste. Mesmo sendo impossível te ver e não pensar em querer, te reencontrar em outros lugares, com outros sorrisos, outros olhares, um jeito diferente de meses atrás, acho que agora pode ser a hora de darmo-nos uma nova chance, ou ao amor. Mas para isso eu preciso me conter, me manter, me esconder. Não esconder o que sinto, mas sim nosso amor. Às vezes o mau ver de outros que, por não conseguirem encontrar tua felicidade entram no nosso caminho, pode nos levar ao fim. Melhor assim, no nosso amor não cabe três. ‘’Do nosso amor a gente é quem sabe, pequena’’, já dizia Rodrigo Amarante. E é assim que eu vou, falando mais de amor e menos de nós dois.

 

Mossoró, 10 de junho de 2008. Casa.

Ouvindo: Fix You; Talk – por COLDPLAY.

Resumo dos Dias – Alvorada

“A cidade dorme agora, com alguns sonâmbulos em seus carros lentos em ruas desertas. As luzes alaranjadas deixam tudo um pouco mais escuro e sombrio durante o caminho de tua casa até meu quarto. Chego até a porta com uma pintura meio gasta, encaixo a chave, pendurada em um chaveiro de um mini-porta-retratos com uma foto tua, e abro a porta num mecanismo que não preciso entender para saber que é assim. Meu cachorro me espera deitado no sofá, deixo a chave sobre a mesa na cozinha e pego um pouco de água. Coloco um pouco em um copo plástico preto e levo comigo a meu quarto. Deito-me na cama e fico olhando para cima por alguns instantes com um sorriso no rosto. Sento-me e fico parado lembrando tudo que aconteceu hoje à noite. Teu jeito, sorriso, roupas, aquele beijo no meu rosto quando cheguei, foi algo que me espantou até agora. Todas aquelas palavras que foram ditas, os mal-entendidos que foram resolvidos, aquele abraço e algo mais na despedida às 22h, foi algo mais do que o imaginado. Gosto quando é assim, quando não são necessários planos nem manuais de instruções, sem nenhuma liturgia, somos nós realmente quando somos assim.”

[…]

-‘Então, até amanhã?’ – diz você.

– Por mim tudo bem. Hoje, amanhã, e por todos os dias que ainda conta o calendário.

– ‘[Risos] – ok então, o mesmo horário.’

– Certo. Agora vem cá…

 

Então você me abraça e me olha nos olhos. Essa é a distancia ideal entre nós dois, mas não entre nossos lábios. Então eu te beijo, naquele instante onde a rua cheia ficou vazia, onde as luzes dos postes pareciam holofotes, e os teus olhos pareciam neon. Então você sorrindo diz:

 

-‘Vá, antes que fique mais tarde, pode ser perigoso para você voltar para casa.’

– Ok, vou mesmo. Até amanhã.

-‘Gostei muito de hoje à noite, sabia?’

– Também, curti muito.

-‘Tchau, se cuida, e me liga para dizer que chegou bem em casa.’

– Rs, ligo sim.

 

Dou-te outro beijo e volto para casa para escrever tudo que se repetiu acima.

Resumo dos Dias – Puzzle

A confiança que eu procuro, é algo mais do que acreditar no que eu digo. Eu falo também em contar contigo para o que der e vier. Falo de ter sempre alguém do meu lado para apoiar aquilo que eu faço, quando você também concordar. Eu quero alguém que também discorde de mim, e que me diga o que fazer quando eu estiver errado. Eu não quero apenas um alguém que me faça promessas, disso eu já tenho em sobra. Eu quero unir planos. Mais que um amor, eu preciso de uma amizade leal, daquelas de qualquer hora, sem importar o tamanho do problema. Eu preciso de uma peça que encaixe perfeitamente na parte que me falta. Eu ainda continuo querendo dizer tanta coisa… Mas no momento eu continuo a ser indireto. Ainda…? Será mesmo? Se você sentir algo parecido com o que eu penso sentir, você entenderá sem que eu diga um verso a mais sequer. Se você concordar e aceitar, virás, e então aquela fábula, que eu tanto insisto em rebuscar, possa lhe fazer sentido.

Casal Exemplar

Não adianta ficar ali abraçada com ele,  o beijar no rosto, olhar para ele com aquele olhar se quando olhas para mim teu coração ainda dispara. Tudo isso é orgulho? Tudo isso foi porque eu te disse que não era hora de dizer ‘eu te amo’? Eu não disse que não te queria mais, eu não disse que meus braços estavam vazios com você, eu só não quis arriscar. O que eu quis foi te proteger, eu não me conformaria jamais em saber que você estaria a sofrer por mim. E você pode dizer o que quiser, só não pode colocar palavras na minha boca. Talvez eu te ligue mais tarde, talvez eu ligue a tv e assista ao filme para me sentir menos só. Talvez você me ligue e façamos as pazes, ou se você recomeçamos de onde mal começamos.

Mais um Abraço Utópico.

Aqui estou eu, sentado, calado, com alguns papéis em branco, uma caneta esferográfica azul que não risca o papel. É ansiedade, é inquietude, é qualquer coisa que tenha como sintomas um acelerado ritmo cardíaco, suor excessivo nas mãos e muitas passagens das mãos sobre os cabelos. Minha camisa azul-marinho-meio-claro com detalhes e palavras brancas que não chama tanta atenção, e eu quieto e encolhido do jeito que estou aqui, seria mais difícil ainda de deixar de ser translúcido aos teus olhos. Mas eu sei, falta pouco para aquela porta se abrir e você entrar. Com aqueles olhos verdes como a folha de um orvalho em um dia frio, e com cabelos castanhos-quase-loiros que parecem à luz do sol num lago qualquer na aurora nevoada. Não me constrange nem um pouco ter a certeza que você virá acompanhada daquele que você tem ao teu lado. Só você é o bastante. Tua luz em meus olhos é tão ofuscante que não consigo o enxergar. Como pode ser tão ridículo e maravilhosamente doce ficar aqui só pensando tudo isso e te olhando? Nunca pensei que uma blusa branca sem detalhes visíveis, uma calça capri jeans azul claro com listras, uma sandália baixa, e um prendedor de cabelos amarelo pudessem me chamar tanta atenção. Então você após entrar fica parada olhando para os lados procurando um lugar para sentar-se. Ao lembrar eu acho tão ridiculamente hilário como em minha cabeça eu torcia para você sentar-se na cadeira em frente a minha, num canto [estrategicamente planejado por mim] da sala em que sentei só por saber que sempre você sentaria em alguma daquelas cadeiras do lado direito da sala. Como o planejado tudo acontece. A ansiedade de algo que não existe em lugar nenhum [além de minha cabeça] diminui ao te ter o mais próximo que posso ter. Ao ter que ver por quatro horas aquela nuca alva, aqueles cabelos em coloração angelical, esse ‘árduo trabalho’ de te admirar torna-se um castigo. Por Deus, acho que nunca pequei tanto em minha cabeça quanto nos momentos em que te desejo em meus sonhos acordados, onde eu torço para que largues dele e se encontre em mim. Então ao passar do tempo você se meche na carteira procurando uma melhor posição que se sinta confortável. Em algumas dessas tentativas (enquanto eu escrevo), algumas mechas de teu cabelo amarrado de forma simples no meio da cabeça deitam sobre minha carteira. É nessas horas que meu pensamento vai mais profundo. Pode parecer uma cena absurda, cômica ao extremo, ou boba demais, mas confesso ser a mais pura verdade: ao ver teus cabelos sobre a mesa de minha carteira enquanto eu escrevo, vou levantando lentamente o meu olhar em direção aos teus cabelos, os seguindo até tua nuca. Afasto-me um pouco tomando postura, olho para os lados e percebo que ninguém vê. Neste momento vou lentamente aproximando meus dedos trêmulos e suados daquelas poucas mechas de teu cabelo. Suave-discretamente vou acomodando alguns fios de teu cabelo em meus dedos. Ah Deus, pra mim isso já é demais. É algo tão pouco, tão pouco, mas que é o suficiente para eu me contentar. Já que chega a ser até impossível sonhar em te ter, eu me contento com isto como se fosse o mais caloroso abraço em que já me envolvi. Sorrateiramente vou encolhendo de volta meus dedos para perto de mim. Alguns instantes depois, meio que sem saber de onde surge em mim uma coragem que ultrapassou subitamente o querer. Toco com um dedo apenas nas tuas costas, você se vira, olha para mim e lhe faço uma pergunta qualquer, mas que até faz sentido. Você se assusta, mas mesmo assim me sorrir simpaticamente sorridente, agradeço com outro sorriso e um ‘obrigado’ incrivelmente baixo para meu tom de voz. Definitivamente, vejo que esse dia foi um dos mais bobos e significativamente engraçados até para mim mesmo. Como alguém pode ir tão longe assim sem sair do lugar? Criar tantas expectativas com um simples tocar de cabelos [risos]. Mas nenhum desses ‘sonhos-acordados-reais’ são tão distantes e bobos que eu não possa pedir para sonhá-los novamente.

Aedo

Agora o silencio instaura-se como lei maior, e quando o sol se põe o que me resta é sentar ao chão, encostado no sofá, assistindo a TV sem som, ouvindo aquelas canções em volume bem baixo. O amarelo que se mistura ao lilás no horizonte modifica as cores dentro de casa, e a única coisa que eu faço é olhar de longe nossa foto na mesa de centro. Em um instante meu olhar congela. Levanto-me, troco de camisa, calço meu all-star branco e saio para espairecer no parque. Ao chegar lá, caminho entre arvores, por caminhos calmos até dar-me de vista a uma área aberta e gramada. Então te vejo ali, sorrindo ao lado de outro alguém. Ele te abraça e lhe beija o rosto. Você me percebe distante, ao encostar tua cabeça no ombro dele. Agora o teu olhar congela, parece não acreditar que sou eu ali. Ao perceber que me reparaste, viro-me rapidamente e saio andando com pressa, em velocidade suficiente para você não me alcançar. Você ao olhar para trás te vejo correr atrás de mim. Ao ver que aumento mais ainda a velocidade, você pára ali, entre arvores e crianças a brincar com seus pais no parque, e grita: ‘’Espera, volte aqui Felipe, precisamos conversar’’. Quando olho para trás e vejo que não me segue mais eu paro, viro-me em tua direção e te olho ofegante. Você olha para mim [são uns 42 metros de distancia], mas sem andar, sem falar, assim como eu. Viro-me novamente e continuo a caminhar em sentido oposto ao teu. Em meio ao parque, num lugar mais sossegado, silencioso e tranqüilo, sento-me e ponho os cotovelos sobre os meus joelhos por alguns minutos em um banco de madeira meio avermelhada. Apanho uma pedra e lanço-a ao lago, apenas para ver algo ali se mover. Distraído, não percebo que você se aproxima sorrateiramente. E ao chegar um pouco mais perto, com os cabelos presos e um pouco assanhados, você em um tom muito baixo e suave chama meu nome. Assusto-me, e pergunto o que porque você ainda me seguiu, o que você ainda quer tomar de mim, já que levaste meu sossego e paz das minhas noites de sonhos bons. Você me olha, e com um olhar triste diz querer apenas conversar. Quer saber o porquê de eu sumir por tanto tempo, porque eu não havia lhe dado noticias, e aproveitando justifica-se dizendo “Mas você não, sabia que eu gostava dele, não sabia?”. Eu fico calado e enxugo meu rosto suado em minha camisa preta. E você continua: “você sabia, não? Você concordou em me deixar ir sem magoas se um dia eu quisesse jogar tudo para o alto. Não foi?”. Fico calado por algum tempo, você senta num canto do banco e me olha na tua frente, em pé, com um lago atrás de mim, arvores atrás e sob você.

– Eu pensei que todo esse tempo fosse suficiente para você o esquecer, não acha? Por que então você dizia gostar de mim se ainda sentia algo mais forte por ele? Você só quis me enganar, não foi? Me diz, Cecília, me diz! – exclamei.
– Mas eu realmente gostava de você, Felipe… – você disse.
– E por ele, o que você sente então?
– Eu sempre o amei, e você sabia disso quando se comprometeu comigo, não sabia? Eu não tenho culpa então.
– Eu pensei que com você fosse ser diferente, Cecília. Eu pensei que você fosse aquela pessoa com quem eu iria querer envelhecer, iria ver o sol nascer e se pôr todos os dias, até o fim de nossas vidas. Mas não, o que você fez? Me deixou para ir atrás de um alguém que nunca proferiu nenhuma palavra de afeto para ti.
– Pára Felipe, você está me machucando. – exclamou você.
– Eu estou te machucando?! E o que você acha que fez comigo quando deixou aquela carta dizendo que não iria mais voltar?! Você acha que eu fiquei feliz e chamei meus amigos para passar a tarde comemorando comigo?! Eu demorei dias para me convencer que aquela porta não iria mais ser aberta por tuas mãos no meio da noite novamente. Eu dormi noites no sofá para não ter que sentir tua falta naquela cama, e você ainda vem me dizer que eu estou te machucando? – disse exaltado.

Então, por alguns instantes o silencio se instaura. Eu sento no banco, ao teu lado. Você apóia teus cotovelos das pernas e põe as mãos na cabeça, colocando os cabelos para trás.

– Eu não sabia que você havia passado por tudo isso. – diz você em voz amena e tremula acompanhada por algumas lágrimas.
– Pois é Cecília. Eu amava você, mesmo. Não como aquelas outras garotas do colegial, mas como a mulher com quem eu queria gastar meus dias.
– Mas você sabe que eu gostava…
– Sei sim, sei. Sabe, eu até me acostumei sem você. Eu consegui um novo emprego, conheci uma garota legal, a gente ta saindo, acho que possa haver algo entre nós, mas nada sério.
– Fico feliz que estejas bem agora, eu nunca quis te magoar. Você foi um cara muito importante para mim, você me deu a força quando eu precisei, você sempre foi presente, eu não tenho do que reclamar de você. Mas você sabe, no coração a gente não manda…
– Não precisa ser tão clichê… [Risos contidos]

Após isso você rir, eu desprendo o meu riso e ficamos rindo em meio às lágrimas. Nos olhamos, damos aquele ultimo abraço.

– Te cuida, viu? – digo eu enxugando tuas lágrimas e tirando o cabeço de teu rosto.
– Tá bom. – você responde com um riso contido.

Não demora muito e ele (o outro a quem tu amas) chega procurando você. Ele te chama e você vai. E ao se afastar um pouco você ainda olha para trás segurando na mão dele, e eu correspondo teu olhar com um sorriso e as mãos no bolso de minha calça. Você então se vira e vai abraçada com ele, sumindo em meio às arvores daquele lugar. Então agora é a minha vez de seguir meu caminho de volta para casa, com aquela canção na cabeça e num assobio baixo. Consigo me sentir melhor, talvez consiga até dormir mais cedo hoje. Por falar nisso, quanto tempo ainda me resta para que eu ainda possa convidar ela (a garota com quem estou saindo), para ir ao cinema?

–\\–
“e no começo lá estavamos nós
voltando pra casa.”
e quem disse que tudo acaba?
e quem disse que o fim é pra sempre?
“O maior perigo de quem vive é querer decifrar a vida.”

“Viva..não pense no que passou, não pense no que virá..viva!”…querendo ou não foi mais ou menos isso que tu me ensinou naquele “pouco” tempo.
Mas como eu disse acima “e quem disse que tudo acaba?e quem disse que o fim é pra sempre?”…[

“Cartas de Felipe” – A Resposta

“Olá Cecilia,
Meu corpo agora parece tão mais vazio, como o copo que você deixou sobre a mesa para segurar o cartão que veio com as flores que eu te dei, e aquela carta de despedida que você me deixou. As flores que pareceram tão engraçadas para alguns amigos meus que não acreditavam no que eu dizia, e que pareceram tão lindas e imprevisíveis para aqueles que nunca acreditaram quando eu dizia te amar. Minha vista agora parece mais embaçada a ponto de confundir amizade com um pouco de amor. Quão fraco fui de não conseguir me controlar, e te dizer tudo aquilo que ainda resta um pouco em mim. Arrependido [mas não de tentar] tive de me afastar um pouco para não comprometer o pouco que restou de laços entre nós.  Laços que foram construídos em um longo tempo, sustentados nos ombros que ouviram os teus choros. Minha ausência fez sair de tua boca palavras de saudade ao perguntar por onde andei todo este tempo em que não mandei noticias. Eu entrei em outra estrada, e consegui sentir aquelas mesmas coisas que sentia antigamente, não por você, mas sim ao ouvir aquelas canções que eu ouvia. Eu vejo os dias caminharem em direção a outro horizonte, agora nem tão distante. De nada custa imaginar como seria aqui se você estivesse ao meu lado agora, espero que não tenhas se arrependido de suas escolhas, espero até que sejas feliz com elas. E sobre mim, quem sou eu agora? Eu ainda estou esperando alguém me dizer quem sou. Eu ainda estou esperando, e não mais procurando, aquela quem vai guardar meus sonhos para quando eu os quiser levar para passear.  Que vai me esperar naquelas noites chuvosas onde eu não mandei noticias, iguais a esta. E agora, ao olhar para janela molhada por pingos da chuva neste carro em movimento eu tento imaginar o que você escreveu no verso daquela fotografia de onde eu te olhava  e que você nem me entendeu. Espero que tenha escrito algo que lhe traga boas lembranças, assim como você trouxe de volta do sorriso aos meus lábios. Confio que agora já não há mais motivos para discórdia entre nós. Guarde agora naquela velha caixa de sapatos apenas as cartas, as fotos e as lembranças felizes de quem já fomos nós.”

 

*Releiam o post “Entre livros e canções de amor” de uma outra forma. Imaginem que quem narra a estória é um alguém dentro de uma fotografia, que se encontra na cabeceira da garota.