Café Frio.

Cada dia que passa aperta mais o nó ao redor dessa ferida. Como uma ostra ferida por um grão de areia eu tenho reverter essa dor em beleza. Calo-me e me afasto, fico mais em mim, e levo meus pensamentos para passear por aí. Você vai me perguntar por onde andei, ou o que eu venho sentindo esses dias. Talvez eu não saiba bem, talvez eu só consiga sentir. Talvez assumir seja doloroso demais, talvez eu não saiba assumir. Quanto mais eu me afasto, mais eu preciso de alguém por perto. Acho que é empatia se recolher para não ferir a quem se preza, ou, até mesmo, amor. Talvez eu esteje muito errado, talvez nem tanto assim, ou talvez nem esteja. O fato é, se a semente demora a germinar, é porque o ambiente ainda não está propício. 

Não vale a pena falar. Não mais. Ou ainda. Ou não.

Ausência.

Vem cá, meu bem
– Parece que a gente não tá tão bem assim. Talvez o amor não exista mais para mim…
– Talvez eu nem saiba porquê.
– Eu sei que todo esse tempo que eu passei eu mudei pra ti, das roupas ao lugares que eu costumava ir e olha o que sobrou pra mim: A luz da televisão, o frio intenso em cima do colchão, as cartas espalhadas pelo chão. Prefiro a tua ausência à sua rejeição. Eu bem que tentei reencontrar em ti aquele alguém por quem me apaixonei, mas sabe, é difícil aceitar a solidão. Talvez vez você não saiba porque sempre que precisou eu estive ao seu lado, eu nunca fingi ser só mais um ‘apaixonado’, e, se um dia eu pedi demais, foi o teu abraço que eu pedi demais, aquele sorriso que me trazia paz. Todas aquelas coisas que eu sempre amei, a velha pessoa por quem eu me apaixonei, foi embora! […] Na luz da televisão, no frio intenso em cima do colchão, nas cartas espalhadas pelo chão… É que eu me sustento agora.

Diluculum e Ocaso

– Ainda consigo lembrar do meu rosto antigo, agora eu sou o antigo.
– Pois é, meu amigo. Acho que estamos ficando velhos.
– Ele é covarde.
– Quem?
– O tempo. O tempo é covarde.
– Por que falas isso, meu bom?
– Ele não nos dá vida, mas nos faz perceber a mesma.
– Eu acho que ele é nosso amigo. Nos assusta com a idéia de que cada instante é único para nos fazer valorizar a vida.
– Penso que não. Quando somos jovens ele nos faz sentir o desejo de sermos quem não somos, mas quando chegamos aqui, onde estamos, ele nos faz sentir saudade de quem fomos um dia.
– E de que você sente falta? Do trabalho? Do estresse? Eu gosto muito mais agora. Não trabalho, mas tenho meu dinheirinho da aposentadoria, tenho quem faça as coisas para e por mim, tenho quem se preocupe comigo, meus filhos todos cresceram e agora são bem sucedidos, têm suas próprias famílias, tenho minha velhinha em casa… Eu acho que não podia ter vida melhor.
– É, eu sinto falta do estresse, da falta de dinheiro, das brigas em casa, da incerteza do futuro, do medo de não ser realizado profissional e pessoalmente. É isso que é a vida, essa confusão toda. Você já parou pra pensar onde estamos nós agora, Mário?
– Estamos vivendo, Baltazar, sem problemas. Não é isso o motivo de lutarmos a vida inteira? Esse sossego? A melhor idade?
– A melhor idade? Estar morrendo foi a pior coisa que me aconteceu, a morte não, mas estar morrendo sim. Eu agora me sinto inútil. Há coisas que eu queria fazer, mas meus ossos ou lucidez não me deixam mais. Eu nunca saltei de pára-quedas, nunca quebrei uma perna andando de esqueite, nunca fugi de casa para acampar com os amigos num terreno longe da cidade.
– Velho, você é louco? [risos]. Toma seu café e lê teu jornal em paz, o teu tempo de fazer isso já passou.
– Aí que tá, o tempo me deixou pra trás. O tempo veio antes de mim e continua jovem, e eu agora sou chamado de velho.
– Baltazar, você está ficando ‘gagá’? Pára com isso, amigo.
– Eu queria ter vivido mais.
– Vive agora, então. Dinheiro você tem, vontade parece que também.
– Eu não tenho mais é tempo, ele me deixou para trás mais uma vez.
– Deixa conversa, você tá novo ainda, sessenta e quatro é mesmo que ter vinte e quatro. Vai, faz o que quiser!
– Mas três meses é muito pouco para se fazer tudo isso.
– Do que você tá falando?
– Fui ao médico com a Roberta, fazer exames de rotina, e o doutor lá descobriu um tumor em meu cérebro, me deu três meses, mas que podia ser menos ou mais.
– Como assim? Você não sentia nada? Como só agora você descobriu?
– O doutor disse que ele cresceu muito rápido. Eu sentia dores de cabeça, mas achei que fossem normais, coisa da idade ou qualquer coisa menos grave.
– Isso não pode ser sério, meu amigo! Procura outros médicos, refaz os exames…
– O doutor Leonardo é o melhor, Mário, ele sabe o que faz.
– E agora? O que você pretende fazer?
– Comprar um esqueite.

Amizade

– (do latim amicus; amigo, que possivelmente se derivou de amore; amar, ainda que se diga também que a palavra provém do grego) é uma relação afetiva, a princípio sem características romântico-sexuais, entre duas pessoas. Em sentido amplo, é um relacionamento humano que envolve o conhecimento mútuo e a afeição, além de lealdade ao ponto do altruísmo. Neste aspecto, pode-se dizer que uma relação entre pais e filhos, entre irmãos, demais familiares, cônjuges ou namorados, pode ser também uma relação de amizade, embora não necessariamente.
A amizade pode ter como origem, um instinto de sobrevivência da espécie, com a necessidade de proteger e ser protegido por outros seres. Alguns amigos se denominam “melhores amigos”. Os melhores amigos muitas vezes se conhecem mais que os próprios familiares e cônjuges, funcionando como um confidente. Para atingir esse grau de amizade, muita confiança e fidelidade são depositadas.
Muitas vezes os interesses dos amigos são parecidos e demonstram um senso de cooperação. Mas também há pessoas que não necessariamente se interessam pelo mesmo tema, mas gostam de partilhar momentos juntos, pela companhia e amizade do outro, mesmo que a atividade não seja a de sua preferência.
A amizade é uma das mais comuns relações interpessoais que a maioria dos seres humanos tem na vida. Em caso de perda da amizade, sugere-se a reconciliação e o perdão. Carl Rogers diz que a amizade é “a aceitação de cada um como realmente ele é“.

 

Fonte: Wikipédia

Delicadamente…

..ela me olha. Olhos brilhantes, fixos. Ela nem percebe, mas um sorriso vai surgindo lentamente. E como eu sei? De onde estou consigo ver cada pequena parte de teu rosto. Eu poderia passar a vida inteira nesse ‘andar’, te olhando perto assim. Passar as mãos em teus cabelos, beijar teu rosto, falar ao teu ouvido, te ver sorrir. Então ela olha para o lado, a TV possivelmente chame mais atenção. Ela olha atenciosamente para a TV e me pede para calar para ela ouvir o que eles dizem. Eu fico olhando para ela enquanto ela sorri com algo engraçado dito pela atração principal. Enquanto cada som que faço é perceptível para ela que presta atenção na TV, cada movimento que ela faz me deixa um pouco mais distante do mundo. Embora o café agora esteje mais frio, ainda não é tarde para provar. Olho para nós como uma moldura, a cena final de um filme que pára enquanto você sorri. E assim, lentamente, eu me distraio. Penso em algo que depois que torno a mim nem consigo lembrar, mas quando vejo ela olha para mim. Eu sorrio, ela sorri. Beijo-a no rosto e rascunho um abraço, enquanto faço planos para o que o que nunca deixou de ser.

ampulheta.

Ela se foi. Aquela vida se foi. Não foi só uma despedida, foram planos desfeitos, sonhos destruídos, e um vazio imensurável. Aquelas canções que cantávamos e ouvíamos juntos já não fazem mais sentido. Já não fazem pulsar aquela antiga emoção, nem nascer o prazer na tua companhia. Alguns momentos bons em fotografias, mesmo não impressas, mesmo não tiradas. Lembro que me sentia seguro ao estar sobre teu cuidado, sobre a tua voz mansa; lembro-me de esperar para te ver, e passar um pouco do teu tempo livre ao teu lado, fazendo coisas legais, ou não. O mais difícil para mim não é deixar isso de lado, é ver que podia ter sido diferente. Você fez sua escolha, eu te apoiei, e vamos ser felizes assim, sempre somos. Não vou abrir mão de te ver, não vou abrir mão de compartilhar tuas vontades e desejos. Nos sonhos acordados eu quero ser teu espectador, e na realização desses, eu quero estar na primeira fila. Você vai fazer muita falta, e já faz, mas a fraqueza que me faz não me deixa te assumir. Fica bem, e não faz barulho antes de sair. Saia de mansinho para que eu não perceba, assim pode ser mais fácil, rápido e indolor.
Parece que foi só outro sonho bom.
É, foi só um sonho bom.

Long Plays

Ouvi sem querer, e não faz muito tempo, enquanto estava na fila do banco, sobre os planos de alguém. Era uma linda jovem, em seus aparentes 23 anos. Ela dizia para este senhor (bastante idoso, e que conhecera ali mesmo, naquela fila) que iria se casar neste final de semana, e que estava ali para retirar um pouco do dinheiro que tinha na poupança para os últimos detalhes. Disse que estava amando este rapaz, Otávio, e que ele era o homem perfeito para ela. Ele era a personificação de um sonho bom que ela tivera aos doze anos de idade, do cabelo partido para o lado direto, de fios claros, formando-se em direito como o melhor aluno da turma. De família boa da classe média, o melhor partido da cidade. Ela lhe contou sobre os planos, a casa na capital decorada ao próprio gosto, os planos para o primeiro filho depois dos dezesseis primeiros meses, o dinheiro para ajudar a mãe no final do mês e compras no shopping com as amigas na sexta-feira depois do expediente na loja de perfumes franceses. O senhor ouvia com atenção o buquê de sonhos da jovem, sorri e não fala nada. A moça ainda continua dizendo que já escolheu seu vestido, e que será o mais bonito que alguém poderia usar, e que será o mesmo usado pela mãe dela quando a mesma se casou. Ela disse que se sente a mulher mais realizada e que convidou a todos que conhecida para a cerimônia na igreja, diz que quer que todos estejam presente no dia mais feliz da vida dela.
Assim, por algum tempo ainda vi aquela jovem falando entusiasmada de seus preparativos para o casamento para aquele senhor. Não demorou muito a fila andou, e a moça tomou um caminho diferente de mim e do senhor dentro da agência bancária. Ao chegarmos na outra fila, ficamos do lado, eu e o senhor. Seu Júlio, era o seu nome. Disse que era ex-comandante da marinha, que havia morado em Recife por muito tempo e havia decidido voltar para Natal depois que se aposentou para morar com os filhos, pois estava ficando velho. Então ele me perguntou:
– Você viu aquela jovem bonita que estava aqui, meu rapaz?
– A de blusa azul? – perguntei eu.
– Isso mesmo. Ela estava a me contar sobre seus planos, disse que iria se casar, estava tão empolgada que acho que deu para você ouvir, já que estava ao lado.
– [risos]. É, eu ouvi sim. Ela parece bastante feliz, não?
– Sim, ela estava sim, mas há um problema, meu rapaz. Eu sou vivido já, eu tenho 72 anos e nem devia estar nessa fila, estou aqui porque não quero me sentir inútil, eu quero mais é aproveitar o pouco que me resta nessa vida inútil, mas isso não vem ao caso. Meu jovem, vocês hoje em dia se apaixonam muito rápido. Acredito que essa menina não esteja amando esse rapaz, nem ele a ela, eles só se conhecem por 11 meses. Na minha época a gente passava de dois a três meses só para ter permissão a visitar a moça, e hoje vocês a beijam ou já dormem na primeira noite. O mundo anda estranho, e podem me chamar de careta. Esse respeito ou medo, o que quer que seja, que havia na nossa época era o que tornava prazeroso o romance. Você não esperaria três meses para poder apenas pegar na mão de um moça, esperaria?
– [risos] Não, não esperaria.
– Então, aí que tá. A gente, antigamente, gostava primeiro da moça e a partir daí começava a cortejá-la. Depois tinha que ir na casa dela, todo ‘engomadinho’ pedir a mão dela em namoro ao pai dela. Não era qualquer um que fazia isso não. Hoje pode parecer careta, mas preste bem atenção: todos (ou a maioria) dos casamentos que se fundaram assim permanecem até hoje. Hoje em dia ainda é comum se ver casais de velhinhos com 50 anos de casados, mas daqui pra frente vai ser raro encontrar alguém com dez anos de casado. O amor virou banal, meu filho.
– E o senhor, é casado a quanto tempo? Vejo a aliança em teu dedo…
– Eu sou viúvo, meu rapaz. A Eva faleceu faz trinta e três anos.
– E o senhor continua usando aliança, seu Júlio?
– Ora, meu filho, antes de nos casarmos eu prometi ao pai dela amá-la até o fim de meus dias, e eu sou homem para cumprir minha palavra. É disso que eu falo, meu jovem, em amor para a vida inteira. Eu já amava a Eva quando eu comecei a namorá-la e a cada dia que se passava eu tinha mais certeza que ela era a mulher que Deus tinha para ser minha. E foi, ficamos juntos por 32 anos, mas casados até hoje. Eu nunca amei ou sequer me senti atraído por outra mulher depois de Eva. Essa aliança é o símbolo de dedicação a ela, e amor até o fim de meus dias.
– Disso eu sinto inveja, desse amor duradouro de vocês. Espero que um dia eu possa encontrar alguém assim para mim.
– Meu filho, você encontrará, tenha certeza. A mulher certa para ti é aquela que te fizer sentir coisas que você jamais sentiu, e que te rouba a lucidez e te faz pensar e fazer bobagens. O amor é louco meu filho, mas você pode procurar pelo resto dos teus dias coisa melhor, e não irá encontrar. E quando você a encontrar, jovem, dedique sua vida a ela, e você será feliz a fazendo feliz, esse é o segredo. Agora eu vou ter que ir por aqui, é minha vez. Foi bom falar contigo.
– Ah, muito bom falar com o senhor também. À propóstico, meu nome é Sérgio.
– Muito prazer Sérgio, pensa no que eu disse, e que Deus a mande e que você a encontre e reconheça.
– Reconheça, como assim?
– Mais uma vez, prazer, meu jovem!

61 Dias.

Cena #01.
O fim do espetáculo. As luzes vão se apagando lentamente, as cortinas se fecham rapidamente e gradualmente começam (como chuva) as palmas.

Cena #02.
Pra de Copacabana. O último e o primeiro dia separados por 10 segundos em LED em algum lugar da Avenida Atlântica, por (mais) um recorde de fogos de artifício e beijos emocionados e embalados a champanhe para viagem.

Cena #03.
A canção mais esperada, deixada para o final para concentrar emoções. Quatro acordes, três estrofes e um refrão. Lágrimas de quem recorda tristes momentos, sorriso e euforia de quem apenas acompanha o refrão.

Cena #04.
O outro lado da cidade. O lugar mais lindo para se admirar as luzes e neons da cidade. Longe de todo o barulho e agito, restou só uma garrafa com chá, um tela em branco, um resto de tinta vermelha e dois recipientes (cheios) de tinta preta.

Cena #05.
Luzes do televisor que ficou ligado para sentir-se menos só. Notícias dos lugares que jamais visitou, pessoas que jamais conhecera (á). O livro favorito marcado na página 213, da terceira vez que é lido. A cama um pouco mais vazia para uma vida um muito mais cheia.

Cena #06.
O telefone toca pela quarta vez sem ser atendido no apartamento vazio do 4º andar. Ela deixou um recado sob o porta retrato dizendo que o jantar ela guardou na geladeira, e que volta na segunda feira. Não se sabe se daqui a dois dias ou daqui a dois meses.

CORTA! Desliga a TV, se vira à esquerda para dormir. Chega de viver. Por hoje.

CORTA! Chega de sonhar. Por hoje.

Pássaro de fogo.

Não é fácil, nunca foi. Acordar e de certa forma sentir o mundo diferente, o sentimento de algo que, mesmo distante, fará falta. Queria estar do teu lado e poder te confortar, dizer as palavras que você precisa ouvir, ou apenas calar e te oferecer meu ombro. Por que você não abre mão da tristeza e sorri para quem sempre quis te ver sorrindo? É doloroso, eu sei, sempre é, e eu quero estar do teu lado, te ver cuidar dessa dor, se recompor, e te ajudar nisso. Você é forte o suficiente, nós dois sabemos. Quer conversar? Me chama. Quer meu ombro? Chega mais perto. Me quer por perto? Olha para o lado.

cafés frios

– Olha só onde o barco quis encalhar.
– Lembra que no começo, quando a gente olhava para os lados e não via nada, chegamos a pensar que isso não iria levar a lugar nenhum?
– Acho que Deus brincou mais uma vez com nós…
– … ou a gente não seguiu bem as regras… 
– … ou seguimos demais.
– Eu pensei que fossemos mais longe.
– Eu nem quis pensar, tive medo de esperar demais e me decepcionar, optei por permitir me surpreender.
– Mas assim não é tão incerto? Como planejar a próxima remada?
– Eu não planejo, vivo cada uma. Nunca é igual, ao menos nunca foi. Cada parte da mesma água que toca os remos são diferentes a cada nova remada.
– Você mudou, sabia?
– Acho que os ventos também, erga as velas.
– Você não vai assumir isso nunca, não é?
– Eu assumo o remo e você levanta as velas, certo?

Duas cruzes.

Ela disse “Vambora, meu bem”. Ela me pegou pela mão e atravessou a avenida. Ela olhou para cima. Ela me disse que queria amar um dia, e eu ofereci meu sorriso. Ela me disse que talvez, um dia, queira casar e ter dois filhos, eu ofereci meus olhos e minha casa. Ela diz que anda sem tempo, e eu tenho tempo demais pra ela. Quando ela corre para pegar o ônibus e chegar na hora certa, eu corro para aproveitar mais tempo ao teu lado. Assim, no fim, tudo que oculpa teu tempo vai chegar ao fim (talvez), e ela (talvez), fique sem nada pra oculpar teu tempo ou pra te acompanhar num jantar; então, meu bem, nessa hora eu vou estar aqui, da mesma forma, procurando outra maneira pra estar mais perto de ti.

Texto postado no Os Olhos Não Envelhecem.

Cafés Frios .. ..

Não. Eu vou te chamar no meio na noite, enquanto eu chorar. Quando eu estiver só, você ainda vai estar aqui, e disso eu sei. Pois foi você quem disse pra eu não desanimar, foi você quem me ensinou a ser quem eu sou. Porque foi você quem me amou primeiro, e não pediu nada em troca. Eu nunca vou encontrar como dizer o quanto, mas você sempre vai saber, pois eu vou te devolver o mesmo amor. Uum dia vai chegar minha hora de passar adiante, e eu vou lembrar de você, eu sei.

Narcisos

Ela tem as palavras que eu queria ouvir, mas as guarda a sete chaves e sorri. Ela tem tudo que eu procuro e me dá a dosagem necessária para que eu fique por perto. Ela poderia estar numa canção do George Harrison ou de Cazuza ou de Marcelo Camelo, mas é dela a canção que eu fiz. Se a beleza fosse brilho, estaria naqueles olhos verdes; se fosse o sabor estaria na doçura de teus gestos. Mas a beleza é lúdica como os sonhos, iguais aos que tenho nas noites em que eu vejo mais. Ela poderia ser meu principal desejo, mas isso ela já foi há muito tempo atrás. Ela poderia ser aquele sonho que se repete noite após noite, mas disso ela já me acordou há muito tempo. Agora ela é mais, e talvez nem saiba. Ela está a um passo para ser a diferença entre a realidade e ficção, mas esse passo eu não posso deixá-la andar sozinha.

– Então, meu bem, o que você me diz de um café no fim de tarde comigo hoje e pelas próximas canções estações do ano?

Cafés Frios ….

Olá. Meu nome é Serena, ou como me chamam, Senhora Serena. Tenho 44 anos, sou professora de uma escola do estado, tenho quatro filhos. Quero lhes contar uma estória, e talvez nem haja um motivo para isso. Ao dia 17 de julho eu nasci, mas a minha certidão de nascimento é do dia 22 de julho, assim, tenho dois aniversários. Meu nome foi escolhido por meu pai. Das vezes que eu o questionei sobre o meu nome ele disse que eu me chamaria Amélia, porque era o nome de sua mãe, mas a mãe havia adoecido devido problemas muito graves e ele teve medo de perdê-la, e, por ela preferir Serena, ele me registrou assim, em amor à minha mãe. Serena era o nome que minha mãe queria, ela disse que havia escolhido esse nome desde os seus 12 anos, quando pensou pela primeira vez em ter uma menina. Meu pai morreu antes de completar 67 anos de idade, devido um tumor no cérebro. Minha mãe morreu fazem duas semanas. Três semanas atrás eu descobri um câncer na mama, e no começo dessa semana o Oswaldo (até então meu esposo) saiu de casa. Próximo mês acaba o seguro-desemprego do meu filho do meio, o mais velho já casou. Os dois mais novos estão na escola, por isso recebemos ajuda de um programa do governo. Meu filho mais velho, que mora fora, me dá uma ‘mesada’ todo mês, o que tem sido nossa renda mensal, junto com o seguro-desemprego do meu outro filho e algumas trufas que eu vendo para conseguir algo mais, já que só meu salário de professora não dá para tudo. A vida não é fácil, meus filhos, mas acima de nós ainda há um Deus maior, e não vai deixar que nada falte. Quando tudo parecer perdido, Ele ainda vai estar ali, e vai nos amar incondicionalmente, e é nEle que eu me sustento, sei que nele eu posso me refugiar.

Fez – I

Eu já caminhei demais. Foram dias quentes, noites de um sono perdido, só não mais que eu. Eu só sabia que era tarde quando o sol se punha no horizonte distante, depois disso, eu ficava perdido entre o entardecer e a alvorada. Quando as horas passavam eu olhava para os lados procurando um lugar para me manter aquecido, uma chama para manter acesa meus sonhos. Um passo de cada vez e miragens a cada novo som no ouvido…

– sabe, meu bem, talvez você nem saiba, talvez você até saiba e só não saiba o quanto, mas você faz falta. Não precisa falar, nem sorrir ou se mexer, fica aqui que eu já me sinto bem.

toda cura para todo o mal.