Conversas com o criado-mudo

§1 – Pare por alguns segundos, quatro são suficientes. Observe as coisas ao seu redor. O mundo não parece ser ‘redondo’ demais? Engraçado ver que olhar ao redor nos dê a falsa impressão que tudo nos rodeia, que somos o centro do mundo.

§2 – Agora, depois disso, olhe pra dentro. É engraçado ver como tão pequenos nós ainda somos grandes. Universos infinitos que cabem dentro de um metro e sessenta, setenta ou menos que isso. Somos infinitos universos microscópio-singulares de mundos diferentes, ou talvez sejamos sementes de um mesmo fruto, ou querendo gerar o mesmo fruto.

 §3 – Talvez o fim seja a piada que não teve graça, o show sem aplausos, uma discoteca de músicas melancólicas. Talvez estar morrerendo seja a pior coisa que me aconteceu, mas não morrer. Talvez o fim do amor venha no começo do banal. Que seja dada a devida importância para as coisas devidamente importantes. Um “não” em uníssono para a desistência antecipada e para a decisão não tomada. Um brado ao errar e ao reconhecimento do erro, e ao que vir depois também.

§4 – Para todas as desculpas e coisas não ditas há também respostas e justificativas não ouvidas. Só cobre aquilo que está também ao teu alcance. Ser feliz é muito mais do que sorrir, e você nem sabe ainda, querida. Amar é muito mais que estar ao lado o tempo todo, e sim estar lá sempre quando necessário.

Tudo que eu sei pensar em dizer

De tudo que eu sei pensar em dizer, a única coisa que eu sei dizer é: eu te quero tanto. Tanto assim que não dá pra medir, é tanto que torna-se clichê qualquer tentativa de descrever. Talvez pra você que lê seja algo simples, pequeno, qualquer, mas para mim, meu caro, é algo tão valioso que só sendo recíproco para ser maior. 

– O amor vai ser amor quando nada mais for, meu bem.

rascunhos #05

Eu queria saber o que se passa em sua cabeça quando você caminha assim sob a chuva, ou olhando ao sobrado de ladrilos amarelos, ou quanto atravessa a avenida balançando os cabelos. Eu queria saber o que você sente enquanto põe seus óculos escuros e vê a cidade crescer a seu redor. O que eu quero não se faz mais necessário, se você sorri, eu já esqueço tudo aquilo que eu sempre quis.

gritos e sussurros.

“Eu pensei que fosse difícil gritar pro mundo inteiro o que se sente. Eclodir sentimentos para a multidão que é ninguém, é simples, fácil, rápido e direto. Gritar, pôr em alto-falantes, pixar num muro, escrever no vapor do espelho do banheiro, te falar ao telefone, com aviões desenhando em fumaça no céu, isso é bobagem.

Pensei que falar para você, seria mais fácil. Errei, é a coisa mais difícil do mundo. Sussurar todas as verdades sobre o que eu sinto ao teu ouvido, isso sim é difícil.”

barcos de papéis e girassóis.

Acho que eu descobri, dentro desses dias, o meu lugar. Descobri também que mais importante é um sorriso que um anel no anelar. Descobri em tua felicidade uma razão para esquecer meus problemas, no teu abraço uma razão para ser fiel. Sentir falta do que não se viveu é recordar o futuro, alimentar sonhos, manter no bolso velhos planos. E, quando a realidade ultrapassa o sonho é porque o tempo parou quando eu te encontrei. Assim, que ao teu lado envelheçam os meus pensamentos, que você seja o berço de meus planos e que esteja em ti, sempre, a luz de meus sonhos.

Diálogos – 01

– Vem cá amor.
– Fala meu bem.
– Que dia é hoje?
– dezesseis de abril, certo?
– Hoje faz um mês.
– Eu sei, ia te falar isso, mas pensei que você fosse achar bobagem.
– Bobagem? Bobagem é não falar o que não te aborrece, já dizia a canção.
– Saiba que eu sou muito feliz contigo, agradeço a cada novo dia à Deus por isso.
– Agradece sorrindo, que eu aceito te amando.

Cafés Frios….

Hoje eu quero luzes, abrir as cortinas. Hoje eu quero levantar a âncora, navegar. Quero abrir as asas, e voar. Acordar com um sorriso, ou com um pensamento bom. Ou com os dois. Almoçar com os amigos no chão da sala, assistindo filmes, contando piadas ou vendo fotografias. Deliciar-se num banho de chuva como sobremesa, seguido de um café quente e estórias engraçadas da vida de cada um. Te encontrar no fim de tarde em algum lugar tranquilo, falar e ouvir como foi teu dia, ajeitar teu cabelo, me olhar nos teus óculos escuros, ver nossas mãos namorarem, sorrir só por estar ali. Serenatas, em canções e chocolate, sorvete napolitano para agradar aos dois. Voltar à noite para casa, ouvir um pouco de música deitado no sofá, pensar em nada, brincar com o filhote de cachorro, alimentar os peixes do aquário, tomar um belo banho. Convidar os amigos e você para jantar comigo e sorrir mais ao som de Coldplay.

Parece um dia perfeito, não? Ao menos no meu caderno de anotações, sim!

recados no vapor do espelho do banheiro

“Amor, quando eu saí estava chovendo, por isso fechei todas as janelas e deixei aberta apenas aquela próxima da cama. Achei que seria interessante te ver acordar com a chuva tocando teu rosto. Ah, mas se você não tiver gostado, finge que minha memória me traiu e eu a esqueci aberta. Mais que a chuva te acordando, eu queria estar aí pra te ver acordar. Te beijar o rosto, te manter em meus braços e preparar algo para você tomar no café da manhã. Sabe, cada instante que eu passo contigo é singular. Estou indo mas já espero o dia da volta. Já sinto saudades desde a hora que tive que pegar minha escova de dentes e vi  tua. Fica bem, meu bem, e espera que não demora e eu volto logo.”

cafés frios…

Quanto tempo dura o presente? Quatro segundos? Um? Um quarto de segundo? Menos que isso? Por ser tão pequeno é que o presente torna-se eterno, uma infinidade cada vez menor de tempo. Aquele minuto que eu gravei quando eu te vi, aqueles segundos em que tudo parou num olhar, aquele segundo que se congelou em fotografia.

Se o tempo passa, talvez você passe por aqui e fique sabendo que eu fiquei feliz em te ver feliz.

cafés frios ..

Se ainda der tempo vire-se e volte atrás. Se eu podesse eu o faria, se eu podesse eu deixaria tudo isso ir. Abrir o peito e espantar daqui todos os males, rasgar a garganta em um grito de libertação, para ecoar pelos montes e vales. Se eu podesse deixar a luz do sol atravessar meu corpo e levar consigo meu espírito, eu o faria. Me libertar desse corpo que me limita, me curar das frases que me definem, destas vestes que não me cabem mais. Mas já que eu não consigo me livrar, eu o convido à vir me encontrar. Deixar pra trás toda a dor, todo o sofrimento, todo o pranto, os velhos costumes, as antigas manias, os velhos prazeres: se eu podesse eu o faria. Se eu podesse resgataria das lembranças os bons dias, a casa antiga, as folhas no chão, a sombra da mangueira, os mesmos amigos, as velhas canções, os novos refrões nas velhas melodias. Se eu podesse eu sonharia mais até este se tornar algo real. Se eu podesse eu falaria mais, do que eu sinto e/ou do que quero. Se eu puder, eu não quero me afastar, eu quero ficar mais perto. Fazer meus os teus planos, fazer seus os meus sonhos, fazer de nossa casa um lar.

cafés frios.

Despretenção. Não prestar atenção ao atravessar a rua, não reparar em quem passa na calçada ao lado, não encarar quem vem na tua direção. Hoje eu acordei e te quis por perto, e irônicamente eu estava em distânciamento por inércia. Das coisas que eu já quis, te querer foi a que eu quis mais. É algo como olhar para o horizonte e imaginar o céu e o mar se encontrando, a união de duas grandes coisas. A vontade e o amor. Assim, o horizonte vem nos mostrar que até tudo que parece ser longe demais, ainda é perto, e uma linha tênue é o que separa e une. Se eu sorrir pra você sorrir, você pode achar que eu estou feliz. Se eu te odiar com um sorriso você vai gostar de mim, mas se eu te amar de cara fechada eu posso não ser entendido corretamente. A gente se esforça para mostrar que é sincero e que quer a eternização de um sonho, mas sem esforço a desconfiança leva tudo mar afora.

Penumbra

Tenho pedido forças estes dias. Tenho clamado por esperanças. Eu não encontro mais em mim forças para continuar te esperando. Eu já não consigo mais olhar para mim e acreditar que você não é um sonho. Eu queria poder olhar tua foto e de tanto olhar, de tanto pedir, queria que você podesse se materializar e me abraçar. Só por esta noite, e nada mais. Só um abraço. Só um gesto de carinho destes teus braços frios. Eu queria poder só mais uma vez tocar teus lábios, nem que por alguns poucos instantes. Eu, eu…eu… Eu não sei mais o que dizer. Tudo que se passa na minha cabeça são frases do tipo “Eu te amo”, “Eu quero estar contigo o tempo todo”, “Eu quero teu abraço”, todas as frases que sempre quis te dizer mas nunca tive coragem. Eu vou fechar as janelas, deixar os papéis sobre a cama, tomar as chaves e sair, sem saber que horas voltar. Quero só por hoje te esquecer, só por hoje, para conseguir dormir. Deus, só peço isso. Não, minto. Acima de tudo eu a peço, e me ouve ao menos esta vez. Desespero? que seja, porra! Só penso nela. Só penso em ser feliz com ela, ou melhor, seja como for, feliz ou não, eu vou amá-la de qualquer forma. 

Filmes e refrões de amor

Dos filmes que eu assisti, você é aquela cena que eu trago na cabeça e desejaria viver. É você na varanda de uma casa à beira-mar em um dia chuvoso sorrindo para mim. Das canções que eu ouço você é a parte que eu cantarolo quando estou sozinho, ao falar de um alguém ideal, de um desejado amor atemporal. Dos lugares que eu já visitei você é a paisagem ideal, o cheiro e a neblina. Nos meus sonhos, nos meus atos, nos meus planos, você é o centro, a pedra angular, a base da felicidade. Das coisas que eu nunca vivi, você é minha maior surpresa, das coisas que eu sempre quis, meu bem,  você é a única certeza.

rascunhos #04

É necessário render-se, dedicar-se ao máximo. Assim como uma mãe cuida do teu filho, ele precisa ser cuidado. Da fidelidade a felicidade, do extase da alegria ao desanimo da tristeza. O amor vai ser amor o tempo inteiro.
Amar é vencer limites. Os limites do tempo, do espaço, da percepção. Amar é estar por perto o tempo todo, da maneira que der. Amar não é necessariamente agir, é recuar também. O amor é o que sustenta, o amor é o que mantém. O amar é está disposto a abrir mão da própria felicidade pelo o sorriso do outro alguém.

parábola #02

Lunara, todas as noites, sobe ao telhado para vê as estrelas. Fica ali, as observa em seu telescópio. Ela as ama, e sabe tudo sobre elas. 16 de fevereiro é teu aniversário, e ela lembra de todos os presentes que havia dado aos seus amigos nos aniversários deles. Ao Pablo ela deu aquele exemplar de quadrinhos que faltava para a coleção dele; ao Júlio ela deu o tênis que ele paquerava quando caminhava no shopping; à Ana Clara ela deu uma foto autografada do cantor favorito delas, que ela, Lunara, havia ganho no show que elas se conheceram. À todos ela fazia questão de os presentear com aquilo que eles mais queriam, ou que mais admiravam. Mais tarde, pela noite, quando todos estavam deixando sua casa após sua singela festa de aniversário, Lunara deixou de lado todos os presentes e subiu ao telhado. Na verdade, todos os presentes que a Lunara havia ganhado não fariam o menor sentido para ela, se ela não ganhasse a estrela que ela tanto queria. Por fim, Lunara entristeceu-se por perceber que não faria sentido se ela tivesse tudo que tinha se tudo que ela sempre quis estaria ali, todas as noites, mas Lunara jamais poderia as ter do teu lado.

período

Cada vez que eu vou sem rumo, pretendendo me perder, procurando me achar, eu retorno sempre ao mesmo ponto. Podem mudar os dias (e até mudam), podem mudar as estações de chuva (e isso é bem confuso), mas as coisas sempre se repetem. As mesmas falas, as mesmas confusões, as (sempre) poucas certezas, a monotonia, o complexo apego-desapego, a esperança, a desistência, a insistência, os sonhos, as mentiras e as não verdades. O tempo não muda as pessoas, mas as pessoas mudam com o tempo. Talvez aí, nesse “tempo”, é que eu perceba e até ache normal esse “mudar”. Ora, se até o tempo (clima) anda confuso esses dias, quem somos nós para esperar certezas? Eu não consigo demonstrar tudo que sinto, e o dizer é o mais próximo que eu consigo chegar do fazer.

rascunhos #03

Talvez amanhã, semana que vem ou até hoje ainda. Naquela mesma hora o sol vai estar perto no horizonte, o vento vai cantar quanto atrevessar os galhos das árvores mais distantes, e eu vou estar aqui, outra vez. Não sei se agora é o tempo certo, mas eu sei que fugir também não é tão certo assim.

Por enquanto é isso, depois de amanhã eu nem sei mais.