Clareira

Numa quinta-feira, em uma quina de um alpendre exposto ao vento, tremula a chama de um lampião. Nos imaginei ali, tempos atrás. Tinha planejado um jantar, um futuro e muito mais. Tinha imaginado um violão com cordas de nylon antigas. Tinha imaginado os punhos da rede torcidos. Tinha imaginado teus cabelos tangenciando meu rosto. O vento soprando, trazendo à minha boca teu rosto. Eu tinha imaginado uma lua tão linda, embora escondida em nuvens perdidas, a procura de um chão seco para molhar de esperança, assim como semeaste em mim futuros tão lindos. Imagineis nossos filhos numa manhã de domingo. Correndo, brincando, se divertindo. Imaginei seu sorriso de canto, ao saber que sobre você que eu escrevia, quando me olhavas lá da cozinha. Por fim imaginei uma última vez como seria, se essa história houvesse sido contada em outros dias. Nos polpamos de quantas alegrias? Nos culpamos do que a gente nem sabia. Desculpa ter ficado só na poesia, mas quem sabe outro dia vai soar melhor nossa rima, do que naqueles em que só eu sabia. Como meu pai bem já dizia: “não importa quanto ternos você prove, só importa o que você escolhe no final”.

Todo dia a mesma coisa. Mudam as cores do céu, mudam as nuvens do céu, até o arranjo das estrelas no céu, mas permanecem lá as cores, mesmo que outras; as nuvens as vezes mais carregadas, as vezes mais raivosas, algumas vezes quietas, outras raivosas, semore estão lá; as estrelas, mesmo só aparecendo a noite, de diaainda estão lá. O relógio substituído pelas fotografias que utilizo pra medir o tempo. Os ossos cada vez mais inflamados por um velho sentimento reciclado. O novo está na mente de quem o julga. Vivíamos o presente comparando com o passado, hoje eu percebo que até o futuro já chega obsoleto. São tantas equaões tentando explicar tantos corações que me pergunto qual será sua imagem. Dizem que o tempo está na consciência de quem o enxerga. Estranho, não percebo coisas bem nítidas! No dia que decidi mudar, pentiei meu cabelo partido para o outro lado e percebi que não tinha mudado tanto assim, pois ainda havia o pentiado. Então pensei em mudar meu trajeto de volta ora casa, quando percebi que estava voltando para a mesma casa. Caminhando, ri sozinho, parei en algum canto e pensei diferente. De novo. Me repeti.

sem título

Foi de repente… como em um sonho. Você dobrou e entrou em meu campo de visão. Então foram pouco mais que trinta e dois passos, e considerando que uma pessoas de sua estatura anda a 0,8 metros por passo, à dois metros por segundo, demorou cerca de 24,8 segundos sobre meu olhar. Vestido branco de minúsculas bolinhas pretas, fita azul marinho no cabelo, sapatinho preto. Os fios de seu cabelo dispostos cautelosamente. O olhar perdido tentando encontrar alguma face amiga. E foi nesse momento, quando seu olhar rapidamente cruzou o meu que eu tive certeza: eu largaria tudo, desataria os nós de meu mundo, esqueceria de tudo, para passar o resto dos dias com aquela mulher, do olhar perdido, do vestido de bolinha, mas com a certeza de um bom futuro. E isso é a única coisa que eu penso agora. É a única coisa que eu queria agora. É só o que eu sei dizer por agora.